O medo é uma resposta natural e adaptativa a estímulos ameaçadores. Contudo, o medo que se sente no primeiro ataque de pânico inesperado muitas vezes é injustificado devido à falta de um fator desencadeante ou antecedente identificável; assim, representa um “alarme falso”.
Na grande maioria, o início dos ataques de pânico é lembrado como tendo ocorrido fora de casa, enquanto a pessoa estava dirigindo, caminhando, no trabalho ou na escola, geralmente em público e em um ônibus, avião, metrô ou em situação social. Acredita-se que as situações que estabelecem o contexto propício para o início dos ataques de pânico são aqueles em que as sensações corporais são percebidas como as mais ameaçadoras, em função de prejuízos ao funcionamento (por exemplo, dirigir), estar preso (viajar de avião, elevadores), avaliação social negativa (emprego, eventos sociais formais) ou distância da segurança (por exemplo, lugares desconhecidos).
As preocupações com se sentir preso podem ser particularmente importantes para o desenvolvimento subsequente da agorafobia. O “medo do medo” agudo (ou, mais precisamente, ansiedade concentrada em sensações somáticas) que se desenvolve após o início dos ataques de pânico em indivíduos vulneráveis se refere a ansiedade relacionada a certas sensações corporais associadas a ataques de pânico (por exemplo, coração disparado, tontura, parestesias) e se atribui a dois fatores.
O primeiro deles é o condicionamento interoceptivo (ou medo condicionado de sinais externos), tais como ritmos cardíacos elevados, em função de sua associação com o medo, a dor ou o desconforto intensos. Especificamente, o condicionamento interoceptivo está relacionado a sensações somáticas reduzidas de excitação ou ansiedade que se tornam estímulos condicionados, de forma que componentes somáticos iniciais da resposta de ansiedade venham a gerar surtos importantes de ansiedade ou pânico.
Há um amplo corpo de literatura experimental que atesta a consistência do condicionamento interoceptivo, particularmente no que diz respeito aos primeiros sinais interoceptivos relacionados a drogas, que se tornam estímulos condicionados para efeitos maiores. Além disso, as respostas condicionadas interoceptivas não dependem da consciência em relação a sinais desencadeantes, de forma que já foram observadas em pacientes sob anestesia. Dentro desse modelo, então, mudanças leves em funções corporais relevantes que não sejam reconhecidas conscientemente podem gerar ansiedade ou medo condicionado ou pânico, devido a associações anteriores com este.
O segundo fator, descrito por Clark (1989), é o das avaliações catastróficas das sensações corporais (interpretações equivocadas dessas sensações como sendo sinais de morte iminente, perda de controle, etc.).
As avaliações catastróficas equivocadas podem acompanhar os ataques de pânico por serem parte natural do leque de respostas que o acompanham ou porque foram estimuladas e reforçadas. Além disso, esses pensamentos se tornaram estímulos condicionados que desencadeiam ansiedade e pânico. Nesse caso, as cognições catastróficas podem muito bem ser suficientes para gerar ataques de pânico condicionados, sem ser necessárias.
Por fim, pode-se desenvolver ansiedade com relação a contextos específicos nos quais a ocorrência de pânico seria particularmente problemática (ou seja, situações associadas a incapacidade, aprisionamento, avaliação social negativa e distância da segurança). Essas ansiedades podem contribuir para a agorafobia, a qual, por sua vez, mantém o desconforto ao impedir que se refutem avaliações catastróficas e se extingam respostas condicionadas.
Representação do modelo de Barlow (1988):
Um abraço!
O modelo de Barlow (1988) sugere que o ataque inicial é um alarme falso decorrente de estressores circunstanciais. Pessoas que apresentem vulnerabilidade biológica à ansiedade e que tenham desenvolvido um conjunto de crenças disfuncionais podem, em situações de vida adversas, disparar uma resposta autonômica inesperada. Estas sensações corporais passam, então, por um condicionamento interoceptivo e acabam associadas a qualquer mudança percebida no funcionamento geral do organismo. A interpretação destas sensações como perigosas e ameaçadoras facilita a apreensão crônica e a hipervigilância. Sem muitos recursos para lidar com essa experiência avassaladora, a pessoa então, se engaja em evitações.
Existem evidências clínicas que relacionam circunstâncias estressoras com o primeiro ataque de pânico. Eventos de vida negativos como perda ou doença séria de pessoa significativa, doença ou grande perigo para a própria pessoa, separações ou conflitos domésticos intensos, alterações hormonais, são referidos por pacientes a respeito das condições que precedem o pânico.
Uma variedade de técnicas comportamentais e cognitivas, como relaxamento, exposição interoceptiva, habilidades de enfrentamento e reestruturação cognitiva são comprovadamente eficazes para o tratamento.
Um abraço!
Psicólogo Cleberson Taborda
CRP 12-14675